Nesta
quarta-feira, dia 29/08, teve início o I Ciclo de Debates “Repensando o Sistema Prisional – Passado, Presente e Futuro”,
promovido pela Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro (DPU/RJ). Serão
quatro encontros, a serem realizados de agosto a novembro de 2018 (um por mês),
que terão como objetivo debater as expressões da questão social no sistema
prisional do Rio de Janeiro.
Cerca
de 150 pessoas participaram do primeiro encontro, cujo tema foi “Educação: Um
direito reconhecido?”. Participaram como debatedores, o professor Geovani
Barbosa de Lima (coordenador da Inserção Social da Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária – Seap/RJ), a professora Fernanda dos Reis Lopes
(diretora especial de Unidades Escolares Prisionais e Socioeducativas - Diesp),
a professora Claudia Meira (diretora adjunta da Diesp) e Aloisio Gomes dos
Santos (representante dos internos do Sistema Prisional). Atuou como mediador
Cezar Marques, pedagogo da DPU/RJ.
De
acordo com a defensora pública federal Leticia Sjoman Torrano, coordenadora do
evento, “o tema ‘Sistema Prisional’ normalmente não é trazido para as grandes
discussões e, quando isso ocorre, costuma ser tratado de maneira superficial e
nunca com a presença das pessoas que já estiveram no sistema”. A defensora
informa que o I Ciclo de Debates “Repensando
o Sistema Prisional” se dará em quatro dias, cada um com a discussão sobre
um tema diferente, e foi organizado com base em informações trazidas por estas
pessoas. “Ninguém mais do que elas para saber o que é importante se debater”,
explica. “A relevância desse ciclo de debates é trazer à tona, dar foco, à
visão dessas pessoas que já passaram pelo sistema, abrir espaço para que sejam
debatidos os assuntos que elas entendem ser importantes e debater tais temas de
uma maneira mais aprofundada”, conclui.
“Educação: Um direito
reconhecido?”
Para
a assistente social do Núcleo Criminal da DPU/RJ Ethel Proença Braga, esse
primeiro debate já gerou bons frutos, como o estreitamento dos laços
institucionais entre representantes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj) e a Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC) e a Seap, por meio de
parceria formal anunciada durante o evento. Outros destaques apontados por
Ethel são o fortalecimento do coletivo dos internos e egressos do Sistema
Penitenciário para enfrentamento das lutas sociais, com vistas à concretização
dos direitos fundamentais; a doação, oferecida pela assistente social do
Consulado da Itália Adriana Porto Barreto, de livros em italiano para as
bibliotecas das unidades prisionais com presos que se comuniquem nessa língua;
e a oferta feita pelo cônsul-geral do Equador Octavio Villacreses, que se
prontificou a ministrar aulas de espanhol, uma vez por semana, no sistema
prisional. De acordo com a assistente social, “o objetivo é reduzir a barreira
linguística dos presos estrangeiros”.
“Se não for através
da Educação, não vai ter mudança”
Segundo
Aloisio Gomes dos Santos, interno aluno do Centro Educacional Anacleto de
Medeiros, “a maioria da classe carcerária quer oportunidade de se ressocializar.
Nada melhor do que através de uma boa educação. Se não for através da Educação,
não vai ter mudança”, afirma. “Uma grande parcela realmente não tem paciência
de frequentar uma sala de aula para assistir a aulas de matérias propedêuticas,
mas valorizam e se interessam por cursos profissionalizantes. Muitos ingressam
no sistema prisional sem nenhuma formação e, na maioria dos casos, as famílias
atravessam momentos difíceis. É preciso equacionar as atividades para um
desenvolvimento uniforme”, diz Aloisio.
“Camadas
da sociedade cobram medidas mais rígidas, mas esquecem de que as pessoas que hoje
estão nos presídios retornarão ao seio da sociedade. O que esta sociedade
receberá de volta?”, questiona. “Não sou referência pra ninguém, mas estou aqui
para falar da Educação e não de mim. Conto a minha história porque faz parte,
mas estou aqui é pra falar do bem que faz a Educação no sistema prisional. O
resultado vai ser na rua. A sociedade vai ver o resultado. Um que saia de lá
capacitado é menos um na rua fazendo besteira”, afirma. “Que a nossa sociedade
olhe para a classe carcerária não somente com sentimento punitivo, mas como
pessoas que merecem outra oportunidade e só a terão através de um trabalho na
área educacional mais abrangente”, pede Aloisio, que foi um dos idealizadores
do evento ocorrido na DPU.
“Isso
aqui é a realização de um sonho, de eu poder falar, de eu poder expressar
aquilo que a educação fez na minha vida, as oportunidades que eu tive. Minha
família está aqui de prova. Eles viram como funcionou comigo. Da gente sair de
uma vida ilícita, fazendo coisa ilícita, vir pra dentro de uma unidade, porque,
se fez o mal, tem que pagar mesmo, se agiu errado, tem que pagar... Agora, como
fazer pra essa pessoa, além de pagar, se transformar?”, conclui.
Próximos encontros do
I Ciclo de Debates “Repensando o Sistema
Prisional”:
-
26/09 – “Trabalho: Agente integrador”
-
24/10 – “Saúde: Universalização excludente”
-
13/11 – “Cultura, Religião e Esporte: Dimensões da vida social”
Confira o álbum de fotos do evento, clicando AQUI.
“Costuma-se dizer que ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado dentro de suas prisões. Uma nação não deve ser julgada pelo modo como trata seus cidadãos mais elevados, mas sim pelo modo como trata seus cidadãos mais baixos.” Nelson Mandela (Little Brown – London – 1994)
Confira o álbum de fotos do evento, clicando AQUI.
“Costuma-se dizer que ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado dentro de suas prisões. Uma nação não deve ser julgada pelo modo como trata seus cidadãos mais elevados, mas sim pelo modo como trata seus cidadãos mais baixos.” Nelson Mandela (Little Brown – London – 1994)
Comunicação DPU/RJ
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