3 de setembro de 2018

Educação é o 1º tema do I Ciclo de Debates “Repensando o Sistema Prisional”


Nesta quarta-feira, dia 29/08, teve início o I Ciclo de Debates “Repensando o Sistema Prisional – Passado, Presente e Futuro”, promovido pela Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro (DPU/RJ). Serão quatro encontros, a serem realizados de agosto a novembro de 2018 (um por mês), que terão como objetivo debater as expressões da questão social no sistema prisional do Rio de Janeiro.


Cerca de 150 pessoas participaram do primeiro encontro, cujo tema foi “Educação: Um direito reconhecido?”. Participaram como debatedores, o professor Geovani Barbosa de Lima (coordenador da Inserção Social da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária – Seap/RJ), a professora Fernanda dos Reis Lopes (diretora especial de Unidades Escolares Prisionais e Socioeducativas - Diesp), a professora Claudia Meira (diretora adjunta da Diesp) e Aloisio Gomes dos Santos (representante dos internos do Sistema Prisional). Atuou como mediador Cezar Marques, pedagogo da DPU/RJ.


De acordo com a defensora pública federal Leticia Sjoman Torrano, coordenadora do evento, “o tema ‘Sistema Prisional’ normalmente não é trazido para as grandes discussões e, quando isso ocorre, costuma ser tratado de maneira superficial e nunca com a presença das pessoas que já estiveram no sistema”. A defensora informa que o I Ciclo de Debates “Repensando o Sistema Prisional” se dará em quatro dias, cada um com a discussão sobre um tema diferente, e foi organizado com base em informações trazidas por estas pessoas. “Ninguém mais do que elas para saber o que é importante se debater”, explica. “A relevância desse ciclo de debates é trazer à tona, dar foco, à visão dessas pessoas que já passaram pelo sistema, abrir espaço para que sejam debatidos os assuntos que elas entendem ser importantes e debater tais temas de uma maneira mais aprofundada”, conclui. 


“Educação: Um direito reconhecido?”

Para a assistente social do Núcleo Criminal da DPU/RJ Ethel Proença Braga, esse primeiro debate já gerou bons frutos, como o estreitamento dos laços institucionais entre representantes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC) e a Seap, por meio de parceria formal anunciada durante o evento. Outros destaques apontados por Ethel são o fortalecimento do coletivo dos internos e egressos do Sistema Penitenciário para enfrentamento das lutas sociais, com vistas à concretização dos direitos fundamentais; a doação, oferecida pela assistente social do Consulado da Itália Adriana Porto Barreto, de livros em italiano para as bibliotecas das unidades prisionais com presos que se comuniquem nessa língua; e a oferta feita pelo cônsul-geral do Equador Octavio Villacreses, que se prontificou a ministrar aulas de espanhol, uma vez por semana, no sistema prisional. De acordo com a assistente social, “o objetivo é reduzir a barreira linguística dos presos estrangeiros”.

“Se não for através da Educação, não vai ter mudança”


Segundo Aloisio Gomes dos Santos, interno aluno do Centro Educacional Anacleto de Medeiros, “a maioria da classe carcerária quer oportunidade de se ressocializar. Nada melhor do que através de uma boa educação. Se não for através da Educação, não vai ter mudança”, afirma. “Uma grande parcela realmente não tem paciência de frequentar uma sala de aula para assistir a aulas de matérias propedêuticas, mas valorizam e se interessam por cursos profissionalizantes. Muitos ingressam no sistema prisional sem nenhuma formação e, na maioria dos casos, as famílias atravessam momentos difíceis. É preciso equacionar as atividades para um desenvolvimento uniforme”, diz Aloisio.

“Camadas da sociedade cobram medidas mais rígidas, mas esquecem de que as pessoas que hoje estão nos presídios retornarão ao seio da sociedade. O que esta sociedade receberá de volta?”, questiona. “Não sou referência pra ninguém, mas estou aqui para falar da Educação e não de mim. Conto a minha história porque faz parte, mas estou aqui é pra falar do bem que faz a Educação no sistema prisional. O resultado vai ser na rua. A sociedade vai ver o resultado. Um que saia de lá capacitado é menos um na rua fazendo besteira”, afirma. “Que a nossa sociedade olhe para a classe carcerária não somente com sentimento punitivo, mas como pessoas que merecem outra oportunidade e só a terão através de um trabalho na área educacional mais abrangente”, pede Aloisio, que foi um dos idealizadores do evento ocorrido na DPU.

“Isso aqui é a realização de um sonho, de eu poder falar, de eu poder expressar aquilo que a educação fez na minha vida, as oportunidades que eu tive. Minha família está aqui de prova. Eles viram como funcionou comigo. Da gente sair de uma vida ilícita, fazendo coisa ilícita, vir pra dentro de uma unidade, porque, se fez o mal, tem que pagar mesmo, se agiu errado, tem que pagar... Agora, como fazer pra essa pessoa, além de pagar, se transformar?”, conclui.


Próximos encontros do I Ciclo de Debates “Repensando o Sistema Prisional”:

- 26/09 – “Trabalho: Agente integrador”
- 24/10 – “Saúde: Universalização excludente”
- 13/11 – “Cultura, Religião e Esporte: Dimensões da vida social”

Confira o álbum de fotos do evento, clicando AQUI.

“Costuma-se dizer que ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado dentro de suas prisões. Uma nação não deve ser julgada pelo modo como trata seus cidadãos mais elevados, mas sim pelo modo como trata seus cidadãos mais baixos.” Nelson Mandela (Little Brown – London – 1994)

Comunicação DPU/RJ

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